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Piauiense que atravessa América do Sul de bicicleta passa por Irati

O ciclista saiu de Teresina há dois meses e Irati foi uma das paradas dele

23/10/2019

Piauiense que atravessa América do Sul de bicicleta passa por Irati

Há dois meses, Natanael de Jesus Lemos, mais conhecido como Natan, de 36 anos, deixou Teresina, no Piauí, com uma missão: atravessar a América do Sul de bicicleta. Em pouco tempo, saiu do emprego na Prefeitura de Teresina, doou móveis e vendeu itens, como uma moto. Pegou sua bicicleta e partiu para o Sul do país.

Quase 3 mil quilômetros depois, chegou em Irati na última semana. O município serviu como um breve local de parada para depois seguir para os próximos destinos: o estado de Santa Catarina e depois passar para a Argentina, cruzando o Paraguai, Bolívia e Peru.

Atualmente percorrendo o estado do Paraná, Natan conta que ainda não sabe quando terminará sua viagem, mas planeja escrever um livro sobre ela e a experiência de vida.

Partida

Antes de partir em uma missão numa bicicleta, Natan já havia viajado 12 estados brasileiros em sua moto e também já havia conhecido vários lugares do país com seu fusca.

Depois de pequenas viagens de bicicleta, Natan decidiu aumentar o desafio. “Eu já viajava de bicicleta, mas não tão longo como essa viagem. Foi aí que tive a vontade e a necessidade de fazer a viagem. Na verdade foi algo bem de um chamado de Deus, de ir e contar minha história. Já tive um acidente de moto, quebrei a perna, fiquei de cadeira de rodas, tive uma vida bem pesada, já morei na rua, pedi comida, e aí eu dei uma volta”, conta.

Natan comenta que conseguiu bens materiais como móveis, moto e um fusca. Mas que acabou doando boa parte dos bens e vendendo outros para partir nesta missão. “Só estou com meu fusca na casa de um amigo”, disse.

Depois de doar os móveis a uma família, Natan ficou ainda três dias no apartamento vazio e contou à família sobre a sua viagem apenas um dia antes de partir. Inicialmente os familiares o chamaram de louco, mas ele conta que depois aceitaram o projeto. “’Isso é doido, é louco, esse bicho é louco’. Eu costumo dizer assim: ‘Louco é você que fica aí parado, que só faz estar criticando e falando mal de político, isso sim. Deixa eu ir’. Depois as pessoas foram falando: ‘Que bacana, que legal’”, conta.

No dia 14 de agosto, Natan partiu do Piauí em direção ao Sul do Brasil. “Decidi seguir meu coração. Deus me tocou de alguma forma, para poder viajar e contar minha história em faculdades, igrejas, escolas. E Deus toca muito na estrada, em postos de gasolina, para andarilhos, estudantes, para todo mundo”, relata.

Rotina

Durante sua viagem, ele segue uma rotina. Pedala cerca de 130 km por dia, sendo que a cada 30 km pedalados, ele descansa 30 minutos. “Eu costumo sair às 6h30. E pedalo no máximo até 5h da tarde. Por conta de se tiver algum problema, procurar um lugar para ficar”, disse.

Quando chega à cidade, começa a procura por um lugar para se hospedar. “Chego num posto de gasolina, peço um wi-fi, tomo um refrigerante, e aí começo me comunicar com as pessoas onde vou ficar, e assim eu vou”, conta.

Sua história já despertou o interesse de várias pessoas que conheceram um pouco da sua missão através de sites e das redes sociais, onde ele mesmo conta sua trajetória. Isso o tem auxiliado, já que muitos o ajudam a encontrar locais para se hospedar.  Foi o caso de Irati, onde ele ficou hospedado na sede do motorclube Magos do Asfalto, no bairro Engenheiro Gutierrez. “Essas pessoas das redes sociais acabam nos conhecendo sem a gente conhecer. Eu postei hoje num grupo de WhatsApp e disse estou em Irati partindo para Guarapuava. Aí um rapaz marcou, outro já estava ali, eu estava combinando com ele, vai ter uma serra, assim e assim”, relata.

Ele também possui uma pequena barraca que acaba montando caso encontre um local seguro para ficar. Mas é com a ajuda das pessoas que a viagem tem conseguido se realizar. “Tive em comunidades quilombolas, tive em casas de pessoas estranhas, tive em postos de gasolina, dormi em hotéis, dormi em colônia de ciganos, fui muito bem recebido. E assim eu vou, durmo até debaixo de uma árvore. Sendo seguro pra mim, eu durmo”, disse.

Viagem

Antes de chegar ao Paraná, Natan cruzou sete estados, dentre eles Bahia, Goiás e São Paulo. Durante os lugares foi fazendo palestras e oferecendo aulas de capoeira, já que é professor. “Conheci muitas coisas entre cidades, climas, culturas, pessoas, sotaques, que eu acho bem interessante. A culinária também, as pessoas, a facilidade que as pessoas têm de nos ajudar pela forma que a gente está vivendo”, disse.

Em conversas e encontros teve diversas experiências. “O cara me viu andando de bicicleta e ele parou e foi uma das coisas que me tocou muito. Ele abriu muito o coração pra mim, eu contei minha história: ‘Vivi assim, tive tudo, hoje não tenho nada, mas ao mesmo tempo tenho tudo, não de uma forma financeira, mas de saúde de vivência’”, conta.

Depois de contar sua história, o homem pediu um abraço. “Ele me disse: ‘Tenho tudo na minha vida, sou um engenheiro mecânico, tenho carro, apartamento, minha vida é muito boa, mas eu não sou feliz. Eu sou paraquedista e estava prestes a cometer um suicídio neste final de semana. Eu não ia abrir meu paraquedas’. Nesse dia ele chorou muito na estrada, um cara novo e jovem, se não me engano 26 anos. De uma aparência física e estética muito bonita, um cara que estava bem na vida e ele não era feliz. E aquilo tocou ele”, conta. “Eu disponibilizo meu tempo para conversar com as pessoas”, diz.

Outro episódio aconteceu na Bahia. “Na estrada, não tinha nada, não tinha casa, só plantação de soja, era tarde, tinha pouca água na bicicleta. Estava acabando, e eu estava com muita fome. Não tinha onde comer. Não tinha nem uma sombra de uma árvore para que eu pudesse parar, que eu levo um fogão com panela, para fazer um miojo, alguma coisa. Nem isso tinha. Eu continuei. Foi ai que eu encontrei um pão, no meio da estrada, quando mordi o pão, tinha queijo dentro do pão. Era como se tivesse saído da chapa a pouco tempo, eu comi aquele pão, bebi aquela água, pra mim foi algo muito divino”, disse.

Desafios

Um dos desafios é o clima. “Eu vim de 40°C para um lugar de 11°C, 12°C. Lá em Curitiba chovendo muito, você oscila a sua saúde. Tem que ter muito remédio, mas eu tenho me adaptado muito fácil às condições climáticas”, disse.

Mesmo assim, teve que arrumar novas roupas. “Tive que doar minhas roupas em São Paulo porque do Piauí até São Paulo estava tudo ótimo. Mas aí começou a ficar um frio, então eu doei todas as minhas roupas, para ter umas roupas especiais para frio, são roupas térmicas para poder me adaptar, daí foi melhorando, não tive tanto problema com a saúde”, conta.

Outro desafio é a saudade. “A saudade é o inimigo do viajante. Não que tenha deixado muita coisa lá, minha mãe, minha irmã, minhas sobrinhas, meu cachorro, meu gato. Mulher e filhos não tenho, então está tranquilo”, disse.

Viver

Para ele, a viagem está sendo uma experiência de que é possível realizar qualquer coisa. “Nós estamos muito preocupados com os compromissos. Não dizendo que nós não devemos trabalhar, estudar e cuidar da família, mas temos que pensar em si, no corpo, na mente e não perder tempo com a vida. Eu fiquei internado por vários dias em hospitais, com a perna quebrada, sem poder andar, tendo que depender dos outros. E eu não achei bom. De jeito nenhum. Então, viva a vida enquanto é tempo, a vida é muito curta, é um sopro”, disse.

Gino

Um dos mascotes da viagem é o ursinho de pelúcia Gino, que acompanha Natan na bicicleta, apelidada de Tangerina. Natan possui o ursinho há dois anos, quando ele caiu de um saco de brinquedos que seria doado ao projeto que ele possui no Piauí, voltado a crianças e idosos. “Falei com a pessoa que me deu: ‘Olha fiquei com um ursinho aqui’. Ela: ‘Tudo bem’”, disse.

Ele acompanhou em várias viagens de moto, bicicleta e avião. “Por enquanto é um companheiro, um belo companheiro. Não reclama, está aí, está queimado do sol, está tranquilo”, disse.

Hoje, o ursinho carrega um colar de formiga e um brinco doados por um hippie. “Contei uma história de uma viagem que ganhei um saco de formiga Tanajura, numa serra, torrado com sal e é alimento. Eu ganhei e contei a história para um hippie que pedalou comigo na viagem”, disse. O hippie então fez o colar e doou ao ursinho.

Texto: Karin Franco

Fotos: Karin Franco/Hoje Centro Sul e Reprodução

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