09/05/2020
Lucas Eduardo Mierzwa Pedroso nasceu no dia 25 de março deste ano, em Irati. Exatamente um dia depois de ter sido decretado o início do período mais rigoroso de isolamento social vivenciado, até agora, na cidade devido ao coronavírus. As ruas estavam vazias, o comércio estava fechado e a sensação de insegurança dominava.
No hospital, a mãe Francielli Mierzwa tendo que conciliar todas as questões que envolvem o parto às medidas de enfrentamento à pandemia, que restringem visitas ao hospital.
“Senti muita falta da minha família. É um momento tão especial, no qual queremos as pessoas que amamos próximas. Quando a Júlia nasceu [primeira filha], minhas amigas, meus pais, meus sogros estavam todos esperando sair do centro cirúrgico, agora foi apenas eu e meu marido”, relembra.
Em casa, todos aguardavam ansiosamente por notícias do Lucas Eduardo. Queriam saber se o irmãozinho da Júlia Mierzwa Pedroso – de um ano de idade –, já tinha nascido, se tinha corrido tudo bem e como era o rostinho do bebê. Logo que possível, o pai Lucas Pedroso apresentou o novo herdeiro aos familiares e amigos por fotos.
Francielli conta que se sentiu segura no hospital, mesmo com a pandemia. “É estranho, mas lá eu me senti segura, protegida, pois a equipe tomava todas as medidas de proteção. O meu medo era sair de lá e expor meu filho a tudo que estava acontecendo. Medo, insegurança, ainda mais com dois pequenos em casa”, comenta.
Quem também tem uma filha pequena em casa é Lucilaine Kutner Barankevicz, a Lu. Alice Kutner Barankevicz, a filha, tem três anos de idade e tem sido protagonista de situações inusitadas nestes tempos de coronavírus. Uma destas situações, envolve a escola. “Alice está sentindo muita falta da escolinha e dos amiguinhos. Ela adora fazer as atividades que as professoras mandam por vídeo, via WhatsApp, sempre fazemos juntas as atividades e gravamos o vídeo para devolver para a professora. Mas, quase todo dia ela pede para passar em frente à escola para ver se as férias já acabaram e se não tem mais ‘colona vilus’, como diz ela. Isso corta o coração da gente, as crianças ficarem privadas de sua liberdade”, destaca Lu.
Ela trabalha na Prefeitura de Irati e desde que a instituição voltou a funcionar, mas as aulas permanecem suspensas, conta com o apoio de sua sogra para ficar com a menina pequena. “Minha sogra tem dedicado boa parte do tempo dela com a Alice”, conta.
Um diferencial da família Barankevicz, que tem exigido cuidados mais rigorosos em relação às medidas de prevenção ao coronavírus, é o fato do esposo da Lu, Sidnei Barankevicz trabalhar na Santa Casa de Irati. “A preocupação de quem trabalha na área da saúde nesse momento é maior e requer mais cuidados com certeza”, explica Lu.
Entretanto, segundo ela, a rotina em casa não se alterou muito. “O que mudou foram alguns hábitos e cuidados que ele tem tomado com calçados e as roupas que usa durante o dia de trabalho. O calçado e a roupa já ficam na lavanderia, ele faz troca antes de entrar em casa e de se aproximar de nós [o casal também tem outra filha adolescente, Amanda Kutner Barankevicz, de 14 anos]. O uso do álcool gel virou rotina de todos na casa, inclusive Alice adora passar álcool na mãozinha”, conta.
Experiência materna
“A minha vida mudou, mudou para melhor. Agora tudo faz sentido”, diz Francielli Mierzwa sobre a experiência da maternidade. E ela explica: “Acredito que ser mãe me tornou uma pessoa muito melhor, passei a enxergar a vida, as pessoas, as situações com outros olhos, passei a me colocar no lugar do próximo. Eu me sinto completa, realizada. Agradeço muito a Deus por ter me dado essa benção. Agora eu realmente entendo todo amor, cuidado, dedicação que minha mãe e as outras mães têm pelos filhos”.
Ao contrário da Lu, que teve duas filhas com diferença de mais de dez anos entre o nascimento da Amanda e da Alice, Francielli teve a Júlia e o Lucas Eduardo com apenas um ano de diferença. Por este fato, ela conta que enfrentou certo preconceito das pessoas.
“Ouvi muitas frases desagradáveis pela diferença de idade de meus bebês. ‘Que coragem’. ‘Você é louca’. ‘Coitada, vai sofrer’. Entre outras . A última foi no mercado, uma senhora... eu fiquei sem palavras”, relembra. E Francielli dá uma dica: “Eu penso que se você não sabe ou não tem oque dizer, diga um simples ‘Deus Abençoe’”.
Aniversário
No mês de abril, em plena pandemia com suas exigências de isolamento social, foi o aniversário da Alice Kutner Barankevicz. A festa dos sonhos da menina, que já tinha sido planejada e teria muitos convidados. “Agora que ela já é uma ‘menina grande’ como diz ela, e já entende mais, ela queria muito uma festa de aniversário da Alice no País das Maravilhas, com direito a Chapeleiro Maluco e tudo mais. Já estava programada, iriamos convidar toda família, amigos e os amiguinhos da escola”, conta Lu.
Devido ao coronavírus, a festa teve de ser cancelada. Quando o dia do aniversário foi se aproximando, a menina ficou muito triste. A típica situação que “coração de mãe” não aguenta. Lu Kutner então providenciou tudo, da decoração aos doces e salgados. Mesmo em casa, e apenas com as pessoas mais próximas da família, a mãe criou o País das Maravilhas, para a alegria da pequena Alice. “Ela ficou muito feliz e nós também. A Aprendizagem que devemos tirar com tudo isso que estamos sendo obrigados a viver, é que coisas simples da vida como a liberdade, a proximidade e o convívio com as pessoas que gostamos e que temos empatia têm que ser valorizados. O individualismo não prevalecerá”, finaliza.
Letícia Torres/Hoje Centro Sul