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Quais os significados dos tradicionais símbolos natalinos?

Dentre as tradições que envolvem a celebração do nascimento de Jesus, os símbolos natalinos atuais mesclam elementos religiosos e seculares.

22/12/2023

Quais os significados dos tradicionais símbolos natalinos?

Compreender o significado do Natal passa pela compreensão do período do advento, um tempo que antecede a celebração do nascimento de Jesus Cristo, marcando o início do ano litúrgico. O reitor do Seminário Menor Mãe de Deus de Irati, Padre Hélio Guimarães, enfatiza que este período, iniciado em 3 de dezembro, é repleto de orações, cânticos, novenas e liturgias que rememoram o nascimento de Cristo e, simultaneamente, preparam para a sua segunda vinda. Ao longo das gerações, símbolos religiosos e seculares foram integrados à tradição desta celebração. Padre Hélio e João Carlos Corso, doutor em História e professor na Unicentro de Irati, detalham os significados desses símbolos natalinos e revelam sua evolução ao longo do tempo na celebração do Natal.

Presépio

Padre Hélio destaca a importância do presépio como um dos símbolos centrais do Natal. Ele explica que o presépio tem uma ligação profunda com a história bíblica do nascimento de Jesus Cristo. “Ele pode ser arrumado em nossas casas já no início do tempo do advento ou então preferencialmente a partir do dia 17 [de dezembro], quando nós entramos neste ritmo de espera do Senhor Menino Deus que vai nascer. A palavra presépio significa manjedoura, estábulo, justamente porque nos dizem as escrituras que os pais, José e Maria, não encontraram lugar para se hospedar em Belém e foram parar num estábulo, numa estrebaria, e ali o filho de Deus nasceu e foi colocado em uma manjedoura”, detalha.

Segundo o padre, a presença dos animais no presépio não apenas evoca a humilde manjedoura onde Jesus nasceu, mas também carrega um significado mais amplo. “Manjedoura é uma palavra bonita também para designar um coxo onde os animais comiam. Logo consequentemente sendo uma estrebaria, por isso no presépio sempre tem ali o boi, o jumento, as ovelhas, alguns animais para representar esta restauração universal trazida pelo nascimento de Jesus, é salvação para a humanidade, mas é uma restauração para toda a obra da criação, então por isso a importância da presença dos animais ali no presépio”, conta.

O doutor em História e professor da Unicentro de Irati, João Carlos Corso, traça a origem da cultura do presépio na tradição natalina ao destacar uma história de séculos: há 800 anos, em 1223, na Itália, São Francisco de Assis criou o primeiro presépio. De acordo com Corso, a motivação desta criação era proporcionar uma compreensão mais profunda do nascimento de Jesus Cristo para as pessoas. “No Natal de 1223, São Francisco cria o primeiro presépio da história, na cidade de Greccio. E na verdade, ele reuniu pessoas que representavam o nascimento de Jesus. Então, segundo consta na história franciscana, seria um presépio vivo”, relata o professor.

Os Três Reis Magos

Outras figuras marcantes nos presépios são os Três Reis Magos. De acordo com o padre Hélio, os  magos eram pessoas reconhecidas por sua sabedoria. “Quando nós falamos a palavrinha ‘magos’ não significa que eram mágicos ou reis de uma cultura esotérica. Eles eram da região de Magi, aos povos desta região, a eles eram atribuídos uma grande sabedoria, porque eles eram em sua grande parte também astrônomos, ou seja, capazes de buscar conhecimento também nos mistérios das estrelas e na observação do céu. Aqueles que tinham como experiência observar as coisas distantes, encontraram a verdadeira resposta que é o Jesus Cristo. Por isso que eles seguem aquela estrela e essa estrela os direciona até o presépio de Belém”, comenta.

Ele acrescenta que as cores atribuídas às roupas dos Reis Magos simbolizam a diversidade dos povos. “É para simbolizar que Jesus Cristo veio para ser rei, Senhor e Salvador de todos os povos de todas as nações”. Ele recorda também que na maioria dos presépios existe a referência a anjos com trombetas ou arpas, que anunciam a notícia do nascimento de Jesus.

Estrela

O professor Corso destaca a conexão direta da estrela com a história dos Três Reis Magos, um ícone marcante comum no topo das árvores natalinas atuais. Ele cita que a estrela remete a uma ideia de guia, e que se tornou um símbolo que prevalece até hoje.

O padre Hélio traz mais uma perspectiva sobre o significado atual da estrela além da já conhecida. “A estrela que é colocada ali no alto do presépio é recordando a estrela com quatro pontas, lembrando as quatro direções da Terra: leste, oeste, norte e sul; e também a estrela que conduziu aqueles que vieram para adorar o filho de Deus, tanto os Reis Magos quanto os pastores que estavam na escuridão da noite – lembrando que o nascimento de Jesus é esta luz que vem para iluminar os povos”, acrescenta.

Velas e sinos

“A vela tem essa relação direta da luz, tem a relação com essa iluminação divina e de retirar o mundo das trevas. Então essa ideia da divindade como algo que ilumina, que traz clareza, que faz as coisas serem vistas como devem ser vistas e assim por diante”, comenta o professor Corso.

Padre Hélio ressalta o vínculo do simbolismo da vela com a luz de Cristo. “Estão relacionadas à luz de Cristo. Ela tem essa característica de destacar a Jerusalém Celeste, mas também significa a nossa própria vida, já que acendemos uma vela, por exemplo, para comemorar os nossos aniversários. Tantas velas significa tantos anos de vida, mas um sopro pode apagá-las todas de uma vez só”, descreve o padre.

Ele destaca também a simbologia dos sinos de Natal, que são como instrumentos de um chamado divino. De acordo com o padre, presentes nas torres das igrejas, os sinos convocam para orações; nos presépios e nas portas das casas, proclamam o chamado de Deus.

Já para o professor Corso, os sinos representam o anúncio de uma boa nova, de algo que está por vir.

Coroa do advento e guirlanda

Outro símbolo bastante forte do Natal utilizado pela igreja católica é a Coroa do Advento, representada em algumas residências pela guirlanda na porta. “A coroa do advento são quatro velas que nos lembram os quatro domingos do advento para serem acendidas uma a cada domingo, mas também nos lembram o mundo em que vivemos, as quatro estações do ano; e também o nosso tempo, o tempo cronológico da nossa vida que tem início, começo, meio e fim; e também os quatro pontos cardeais, leste, oeste, norte e sul. E tudo isso pela nossa fé envolvida pela graça de Deus”, explica o padre Hélio. Ele conta que as guirlandas e Coroas do Advento são envolvidas por um círculo com ramos verdes para simbolizar o círculo da vida que representam a eternidade da vida com Deus. 

O professor Corso cita que a guirlanda tem origem na cultura judaica e diferentes significados. “Tem a ver com a cultura que vem de Israel, com a cultura judaica. Essa vela que se acende indica a noite que vai superar o pecado e que vai chegar à luz de Deus. Esse símbolo tem uma perspectiva religiosa, mas que não é do Cristianismo, vem do judaísmo, então vai se juntando essa relação com as crenças religiosas”, conta.

“O arranjo na porta também tem essa relação com a libertação de Israel da escravidão do Egito, então você vai ter as casas que eram marcadas para evitar um castigo, por causa daquela ideia das pestes que estavam tendo no período que é tratado na Bíblia como os vários castigos que Deus teria enviado aos egípcios. E uma forma desses castigos não chegarem até os judeus seria marcando as portas com o sangue do cordeiro, o cordeiro que é Jesus, então é essa relação com o cristianismo, porque ele nasce dentro da cultura judaica. Jesus é um judeu e os discípulos de Jesus, os primeiros, são todos judeus, por isso essa relação com o judaísmo é muito próxima”, detalha o doutor em História, professor João Carlos Corso.

Árvore de Natal

Por sua vez, o conhecido pinheirinho de Natal carrega consigo múltiplos significados. “O Pinheiro tem uma característica que mostra que no hemisfério norte, em que é inverno na época do Natal, muitas vezes todas as árvores estão cobertas de neve. Ele mostra que mesmo no inverno mais rigoroso, o verde de seus ramos resiste ao frio do inverno. Então, para mostrar que mesmo no inverno, ou seja, nas dificuldades, nos desafios do mundo, a presença de Jesus Cristo nos faz resistir e perseverar na fé”, descreve o padre Hélio.

O professor Corso concorda com o padre Hélio e explica que a raiz dessa tradição do pinheiro natalino pode ter origem em outras culturas.Mas não é só isso. Vai ter alguns símbolos que vão ter relação com outras culturas, no caso, por exemplo, da ideia da árvore, que está muito mais relacionado com as festas do inverno, que se reuniam em volta de uma árvore, trocavam presentes, do que propriamente a árvore no sentido cristão. Mas ele vai se aproximar com o Cristianismo e vai se tornar um símbolo também, porque normalmente era utilizado o pinheiro ou árvores que se mantivessem verdes, representando a vida, tem esse simbolismo com a vida”, avalia o professor.

Ceia de Natal

Corso destaca também a dualidade na composição da ceia de Natal. “Para mim, o que me chama muito a atenção é a na ceia do Natal. As pessoas acabam retomando alguns pratos que têm tradição na própria família, alguns pratos são adotados também, porque, por exemplo, não tem uma tradição, mas se adota porque tem a relação com algo que foi vendido como símbolo de Natal, se incorpora determinados pratos na ceia. Começa a ser imposto, de certa forma, por uma questão até comercial, que se deve usar tais elementos como o peru, por exemplo e assim por diante, mas também existem grupos que fazem os pratos que são pratos típicos, que têm a ver com a cultura daquele grupo, daquela cultura, então isso é uma questão muito interessante”, finaliza.

Papai Noel

Um dos elementos mais comuns que compõem as decorações natalinas é a figura do Papai Noel, que mistura traços da cultura religiosa e atual.

“O Papai Noel nos lembra São Nicolau, que era chamado Santa Claus e Bispo de Mira. Na atual Turquia, durante o século IV, este homem de fé foi transformado neste Papai Noel universal, que oferece as crianças presentes, brinquedos e também os carinhos de todas as pessoas. Este Papai Noel atual que nós temos, com roupa vermelha e saco nas costas, é de uma cultura mais dos Estados Unidos, da metade do século XIX”, detalha o padre Hélio, acrescentando que São Nicolau era bastante solícito com os pobres, as crianças, as viúvas e as pessoas desamparadas.

O professor Corso também descreve a origem do simbolismo do Papai Noel com São Nicolau e detalha como foi a evolução desta figura emblemática até os dias atuais. “A partir disso se cria uma tradição, mas vejam que o legal de a gente analisar é de que até a vestimenta, que é o vermelho, o branco, em alguns locais, por exemplo, no Natal Ungaro, você via um Papai Noel vestido de azul e com uma cesta de frutas, alguns presentes, alguma coisa nesse sentido. Mas já começa a surgir, ainda na Alemanha, essa tradição do Papai Noel, de uma figura que representa São Nicolau, com características já puxando com aquilo que é na modernidade, com a cor vermelha, a barba”, conta o professor.

Texto: Lenon Diego Gauron/Hoje Centro Sul

Fotos: Pexels; Pixabay

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