09/08/2024
O Grupo Irati de Alcoólicos Anônimos (AA) celebra seu 41º aniversário no próximo dia 14 de agosto. Para marcar a ocasião, será realizada uma cerimônia especial no sábado, 10 de agosto às 15h30, na sala de encontros da Paróquia São Miguel. O evento contará com a entrega de fichas comemorativas a membros que alcançaram marcos significativos de abstinência, destacando a importância do apoio contínuo e da recuperação pessoal.
Desafios e superações
De acordo com um dos membros do Alcoólicos Anônimos de Irati, a organização oferece benefícios significativos tanto para quem busca acolhimento quanto para a sociedade como um todo. “O trabalho tem 100% de eficácia quando a pessoa vem, conhece o programa e realmente leva os ensinamentos de alcoólicos anônimos a sério. Se você considerar que em média um alcoólatra leva o problema dele para aproximadamente 4 pessoas, veja aí quantas pessoas são beneficiadas. E quantas pessoas que a partir do momento que se recuperam deixam de ocupar leito hospitalar, deixam de ocupar as unidades de saúde pública, deixam de causar problemas no trânsito, deixam de causar desavenças em família. São inúmeras as situações que, através do AA, acabam sendo erradicadas”, relata Alfredo, que já participa há 27 anos das reuniões.
Alfredo cita que o principal desafio para vencer o alcoolismo é pessoal. Ele descreve que enfrentar a doença exige coragem e humildade para admitir os impactos negativos do álcool na vida. “Eu tinha consciência de que a minha maneira de beber já não era normal desde os meus 17, 18 anos de idade. Mas por relutância, a gente fica escravo da doença. Quando chegou nos meus 25 anos, eu precisei passar por internação. Fiz tratamento clínico por um bom tempo. Porém, aquela vontade desesperada de fazer o uso do álcool eu não conseguia abandonar”, relata.
Alfredo comenta que o alcoolismo quase o fez perder tudo de valor em sua vida. Ele conta que chegou a perder emprego e amizades, até que decidiu procurar ajuda no AA. “Perdi muita coisa, perdi emprego, perdi amizades, perdi a vergonha na cara, perdi o caráter. Estava me tornando um páreo na sociedade e ninguém mais fazia questão da minha presença em lugar nenhum. O pouco que restava era a mulher e os filhos. E por pouco eu quase que perco isso também. Até que aí eu consegui tomar a decisão de vir conhecer Alcoólicos Anônimos, mas assim como muitos, eu também relutei. Achava que o AA era um programa feito só para aquelas pessoas que estavam em situação de morador de rua. Mas para minha felicidade, eu encontrei pessoas que não me não me criticaram e me apontaram um caminho para seguir. Eu optei por ficar e a partir do momento que eu conheci esse programa, eu comecei a reconstruir a minha vida”, detalha.
Depoimentos são a base da recuperação
De acordo com Amaral, outro membro do AA de Irati, os depoimentos são a base do funcionamento do Alcoólicos Anônimos e ajudam na recuperação dos demais presentes nas reuniões. “Aqui nós falamos abertamente, porque quando você fala do teu problema para alguém que já passou por esse problema, a coisa fica mais fácil. Você sabe que está sendo entendido por quem está te ouvindo. E outra coisa, você não está sendo questionado, não tem ninguém te dando sermão, nem te dizendo ‘faça’ ou ‘não faça’ algo. Tudo é sugerido. É assim que funciona”, conta.
Ele é membro do AA há mais de 11 anos e cita que chegou à reunião após viver nas ruas por causa do vício em álcool. “Eu sofri muito também pelo alcoolismo, morei na rua, dormia muitas das vezes numa construção, num vagão de trem. Assim eu cheguei no Alcoólicos Anônimos, sem nada, zerado. Tinha perdido minha primeira família, eu já não tinha mais ninguém, não tinha pai, não tinha mãe. Hoje eu posso dizer que eu tenho tudo, hoje eu tenho uma filha que eu amo muito, uma esposa a qual eu respeito, tenho uma casa pra morar, um lar”, descreve emocionado.
Amaral destaca a importância de buscar ajuda para vencer o alcoolismo, que ele compara a outras doenças. “Entenda que você não está sozinho, o alcoolismo é doença, encare isso como uma doença, assim como diabetes, hipertensão, qualquer outra coisa, você está doente. Procure ajuda, não deixe que o teu orgulho seja maior do que o amor que você tem. Procure admitir, venha conhecer o programa, você não é obrigado a ficar aqui, mas dê uma chance para você mesmo”, finaliza.
Quem pode participar das reuniões?
Qualquer pessoa, independentemente da religião ou classe social pode participar das reuniões, que são gratuitas. No local é mantido o anonimato e não é obrigatória a permanência da pessoa no local, se não for da vontade dela.
As reuniões do AA em Irati são realizadas todas as quartas-feiras às 20h e aos sábados às 16h, em uma sala ao lado da Paróquia São Miguel, onde todos podem compartilhar abertamente seus desafios com o álcool e encontrar apoio e inspiração nos relatos de outros.
Programa Al-Anon para familiares
Além do AA, o programa Al-Anon, realizado às quartas-feiras em uma sala separada, é voltado para familiares e amigos de alcoólatras. As reuniões são todas as quartas-feiras às 20h.
Como surgiu o AA em Irati
De acordo com os relatos de membros mais antigos do AA de Irati, um iratiense encontrou a recuperação do vício em álcool no Alcoólicos Anônimos na cidade de Curitiba e, determinado a trazer essa iniciativa para sua cidade natal, com a ajuda de outro membro do AA de Curitiba e de pessoas influentes em Irati, realizou a primeira reunião na cidade, no Clube do Comércio, em 14 de agosto de 1983, dando origem ao Grupo Irati, que desde então se reúne nas dependências da Paróquia São Miguel. Ao longo dos anos, o grupo procura expandir sua mensagem e já conta com novos grupos em Inácio Martins, Rebouças, e o Grupo Liberdade, na Paróquia Perpétuo Socorro em Irati.
Perguntas de autoconhecimento
O Alcoólicos Anônimos de Irati oferece um guia destinado a ajudar indivíduos a reconhecerem se têm um problema com o álcool. Esse guia é projetado para que a pessoa responda a uma série de perguntas de forma confidencial, promovendo o autoconhecimento e a reflexão sobre seu relacionamento com o álcool.
-Você já tentou parar de beber por uma semana (ou mais), sem conseguir atingir o seu objetivo?
-Ressente-se com os conselhos dos outros que tentam fazê-lo parar de beber?
-Já tentou controlar sua tendência de beber demais, trocando uma bebida alcóolica por outra?
-Tomou algum tipo de trago pela manhã nos últimos doze meses?
-Inveja as pessoas que podem beber sem criar problemas?
-Seu problema com a bebida vem se tornando cada vez mais sério nos últimos 12 meses?
-A bebida já criou problema no seu lar?
-Nas reuniões sociais onde as bebidas são limitadas, você tenta conseguir doses extras?
-Apesar de prova em contrário, você continua afirmando que bebe quando quer e para quando quer?
-Faltou ao serviço, durante os últimos dozes meses, por causa da bebida?
-Já experimentou alguma vez “apagamento” durante uma bebedeira?
-Já pensou alguma vez que poderia aproveitar muito mais a vida se não bebesse?
*Os nomes citados nesta reportagem são fictícios com a finalidade de preservar o anonimato dos membros do grupo
Texto: Lenon Diego Gauron