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Como a Inteligência Artificial está mudando a forma que vivemos? Quais os benefícios e desafios?

29/07/2024

Como a Inteligência Artificial está mudando a forma que vivemos? Quais os benefícios e desafios?

Com o avanço acelerado da tecnologia, a Inteligência Artificial (IA) está transformando a maneira como vivemos e trabalhamos. Desde a recomendação de produtos em aplicativos até a automação de tarefas cotidianas, suas aplicações são vastas e impactantes. No entanto, junto com os benefícios, surgem desafios significativos, como o uso inadequado durante as eleições e a criação e propagação de conteúdo falso

 

A Inteligência Artificial (IA) refere-se à capacidade de máquinas e sistemas digitais de realizarem tarefas similares as dos humanos. Esta tecnologia, que já se destaca pela sua aplicação em diversas áreas como saúde, educação, segurança e até agricultura, está se tornando cada vez mais presente no cotidiano. Contudo, sua utilização também levanta preocupações e desafios, especialmente no que diz respeito ao uso inadequado no processo eleitoral e na criação de conteúdo falso.

Aplicações eficientes de IA

Valter Estevam leciona no curso de graduação em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e no curso Técnico em Informática no Instituto Federal do Paraná (IFPR) de Irati. Sua pesquisa foca em aprendizagem de máquina, visão computacional e processamento de linguagem natural.

De acordo com suas pesquisas, as IAs têm apresentado inúmeros benefícios tanto para fins comerciais quanto para a sociedade em geral. Ele destaca exemplos, como sistemas de recomendação em aplicativos (apps) de compras e redes sociais, ferramentas de navegação por GPS e outras.  “Se eu abro um aplicativo de compras e ele me apresenta uma lista de produtos que tem relação com o meu padrão de consumo ou ainda, se abro um app de rede social e ele me apresenta vídeos alinhados aos meus interesses, estou usando um sistema de recomendação que certamente utiliza alguma técnica de IA. Se eu abro um aplicativo de GPS e ele traça uma rota para o meu deslocamento, eu também estou utilizando uma IA. Mais recentemente ganharam notoriedade também as chamadas IAs generativas, que são ferramentas que geram texto e imagens a partir de entradas textuais, os prompts”, detalha.

Também diretamente envolvido com o mundo tecnológico, Igor Kschevy é graduado em Sistemas de Informação com especialização em Docência no Ensino Superior e Gestão de TI. Ele atua no Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) do Centro Universitário Campo Real de Irati e destaca que comercialmente as IAs auxiliam empresas na geração de textos para redes sociais, planejamento e criação de conteúdos persuasivos. Já no uso no dia a dia, ele cita dispositivos que respondem a comandos de voz, o que pode facilitar a vida de pessoas mais idosas, por exemplo. “Hoje em dia é comum ouvirmos falar sobre as casas inteligentes utilizando integração com a Alexa. Isso pode facilitar muito a vida de pessoas com mais idade e que têm certa dificuldade com tecnologia, pois através de comandos de voz, é possível controlar TV, criar lista de compras, ligar e desligar as luzes, ouvir músicas, abrir e fechar as cortinas, realizar ligações, entre outros. Todas essas integrações são possíveis através da evolução dos dispositivos eletrônicos em geral, que possuem acessibilidade que permite a integração para torná-los inteligentes”, explica Igor.

Alfonso Fontenla Neto é o fundador de uma agência especializada em soluções digitais para empresas e clientes. Para ele, a Inteligência Artificial também tem transformado a forma de trabalhar. “No meu dia a dia, utilizo IA para responder a questões cotidianas e aumentar minha produtividade em tarefas repetitivas”, conta Alfonso.

Ele detalha alguns usos da IA. “Uso para diversas atividades, como a transcrição de áudios longos de clientes, resolução de questões que geralmente seriam automatizadas e consultas sobre programação e desenvolvimento, resoluções de problemas, resumo de textos, planificação do dia, de projetos, e questões que geralmente procuraria no Google agora procuro por lá”, relata.

Desafios e impactos negativos

Apesar dos benefícios, os professores Valter e Igor alertam para os desafios e impactos negativos da IA. Eles mencionam que o uso inadequado dessas ferramentas pode ser prejudicial, como no caso de estudantes que utilizam os serviços para obterem respostas prontas. “Um estudante pode inserir a descrição de um trabalho no ChatGPT e obter uma resposta. Ele apenas copia a resposta e entrega ao seu professor. Este é um caso de uso extremamente prejudicial da ferramenta, pois o estudante não aprenderá nada com o trabalho”, cita Valter.

Igor aponta questões éticas, como os direitos autorais de materiais produzidos por IA e a responsabilidade por erros ou conteúdos prejudiciais gerados por essas ferramentas. “Há também a questão envolvendo supostos plágios, principalmente nas ferramentas de criação de textos, onde se pedirmos para essas ferramentas identificarem plágios em trechos de documentos ou livros antigos, elas dirão que tais textos são de autoria delas, mesmo que não sejam”, afirma Igor.

IA e Eleições

Um dos temas mais sensíveis é o impacto da IA no processo eleitoral. Valter explica que deepfakes – vídeos ou imagens criados por IA substituindo o rosto e a fala de uma pessoa – podem ser extremamente realistas e enganosos, influenciando negativamente as eleições ao serem disseminados na internet. No entanto, ele também vê potencial positivo no uso de tecnologia na política. “Pensando um pouco sobre como as IAs poderiam ser benéficas neste contexto eleitoral, é possível utilizá-las, por exemplo, para suporte no processo de elaboração de estudos e planos de governo embasados em dados”, avalia.

Igor concorda que as IAs podem ser utilizadas tanto para o bem quanto para o mal nas eleições e menciona as notícias falsas. Ele explica também como identificar padrões para perceber se o conteúdo enganoso foi criado por comandos e robôs. “A utilização mais comum das IAs é para a geração de texto, e como uma inteligência artificial é uma programação lógica, ela segue sempre a sua programação, isso leva a ‘vícios de linguagem’. Os textos gerados sempre terão as mesmas palavras genéricas que dão a percepção de uma escrita ‘robotizada’. O mesmo vale para a criação de imagens, elas acabam ficando com algumas imperfeições em detalhes mais sutis, como por exemplo, quando se pede para criar a imagem de uma pessoa, detalhes como os dedos das mãos e os óculos acabam ficando deformados”, explica Igor.

Com o aumento significativo do uso da inteligência artificial e da preocupação com a proximidade das eleições deste ano, em março, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou algumas regras sobre o uso de inteligência artificial nas eleições. São elas:

Qualquer material visual feito por meio de inteligência artificial deverá trazer o aviso explícito sobre o uso da tecnologia; Fica proibido simular conversas com o candidato ou outro avatar que aparente ser uma pessoa real; Vedação absoluta, seja contra ou a favor de candidato, do uso de deep fake em formato de áudio, vídeo ou combinação de ambos e que tenha sido gerado ou manipulado digitalmente para criar, substituir ou alterar imagem ou voz de pessoa viva, falecida ou fictícia; Paralelamente, os provedores de aplicações na internet (redes sociais e aplicativos de mensagens, por exemplo) ficam obrigados a retirar do ar, sem a necessidade de ordem judicial, contas e materiais que promovam condutas e atos antidemocráticos e também discursos de ódio, como racismo, homofobia, fascismo e qualquer tipo de preconceito.

No entanto, Valter destaca a ineficácia das plataformas digitais em lidar proativamente com notícias e imagens falsas e explica que as pessoas tendem a acreditar no que já faz parte do seu dia a dia. “O problema é que as pessoas apresentam maior tendência a acreditar em conteúdos que corroboram suas crenças, então, este processo de procura de informação, que precisa ser ativo, acaba sendo pouco efetivo. Infelizmente, as plataformas não demonstram interesse em atacar esse problema de forma ativa e se limitam a remover conteúdos quando determinado por decisões judiciais”, avalia.

A IA vai substituir os humanos?

Outro ponto de debate é a substituição da mão de obra humana por processos automatizados de IA. Valter acredita que, embora a IA possa replicar trabalhos criativos, ela não é capaz de produzir conteúdos genuinamente originais. “Eu gosto muito de uma cena do filme Eu, Robô em que o personagem detetive Del Spooner, interpretado pelo Will Smith está interrogando o Robô Sonny e questiona a ele se um robô seria capaz de criar uma sinfonia ou pintar uma obra-prima. A resposta foi: ‘Você consegue?’ Nenhuma IA é capaz de produzir conteúdos genuinamente criativos. Todo sistema de IA atual não passa de um replicador de alguma coisa que viu ou que está em seu banco de dados”, enfatiza.

Ele vê a IA como uma ferramenta que acelera processos e permite que menos pessoas produzam, mas não substitui trabalhos mais complexos que exigem formação aprofundada.

Por sua vez, Igor cita que já houve tentativas de substituir humanos por IA em áreas artísticas, como na dublagem de filmes, e comenta que atualmente a tecnologia não consegue replicar a emoção e a expressão humana. Em outras áreas, ele vê a inteligência artificial como uma facilitadora, mas não como um substituto para trabalhos que exigem habilidades emocionais e criativas.

Regulamentação

Já o Ministro de Estado do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho,  comentou no Dia do Trabalhador deste ano que a sociedade precisa fazer um debate ético globalmente sobre o tema e falou em regulamentação da inteligência artificial no país. “Se não for regulada, a inteligência artificial vai provocar um estrago inimaginável no mercado de trabalho. Seja na comunicação, na tradução, no trabalho do teatro, do cinema, da educação. Na advocacia, no mundo judiciário, tudo isso vai ser atingido pela inteligência artificial, se não for regulado”, disse Marinho em entrevista à Agência Brasil.

Alfonso Fontenla Neto, que trabalha diariamente com serviços de IA em sua agência, também defende a regulamentação dos serviços. “Acredito que é crucial haver uma regulamentação o mais rápido possível. Além das políticas de privacidade, é necessária a criação de uma agência reguladora internacional dedicada à Inteligência Artificial. Assim como a energia nuclear, que pode ser usada para tratar o câncer, gerar energia ou construir bombas, a IA precisa ser bem regulada para garantir seu uso ético e seguro”, defende.

Tendências e desafios futuros

O professor Valter Estevam identifica vários problemas relacionados às IAs de massa, como a proliferação de discursos de ódio, identificação de conteúdos gerados automaticamente e vieses de raça e gênero. Ele também menciona os "slops", um novo termo que define conteúdos indesejados produzidos por IAs generativas, como imagens bizarras, muitas vezes com forte apelo emocional, e que têm o único objetivo de confundir as pessoas.

Ele explica que, em casos de mau uso de inteligência artificial que venha a causar problemas ou danos, a responsabilidade recai sobre o autor do conteúdo. O mesmo princípio se aplica ao plágio. “Até onde tenho conhecimento, o nosso ordenamento jurídico não permite responsabilizar uma IA por crimes ou por alguma conduta danosa. A responsabilidade sempre é ou da pessoa física ou da jurídica que fez uso da ferramenta. Quanto a direito autoral, vale o mesmo raciocínio”, cita.

Já Igor Kschevy observa a uma tendência para o futuro: as IAs estão sempre evoluindo para desenvolver tarefas mais completas e complexas. Ele vê a principal preocupação no uso exagerado dessas ferramentas, que pode levar à perda de habilidades importantes como leitura, pesquisa e estudo. “A principal preocupação quanto a isso deve se voltar aos usuários que acabam utilizando estes recursos como uma ‘bengala’ para tudo, deixando de lado coisas importantes como leitura, pesquisa e estudos. Essas tecnologias podem e devem ser utilizadas de forma facilitadora e não como uma verdade absoluta, pois elas comumente geram informações incorretas, que precisam ser devidamente validadas de outra forma”, alerta.

Valter destaca a importância de um uso consciente das ferramentas de IA e enfatiza a necessidade de compreender que, muitas vezes, os dados pessoais dos usuários se tornam produtos para as empresas detentoras da tecnologia. “Num uso consciente das ferramentas de IA é fundamental a compreensão de que se estou usando um software altamente sofisticado pelo qual não estou pagando nada, nem mesmo uma mensalidade, então, o produto da empresa sou eu, são os meus dados. Acredito que se você tiver essa compreensão de que você se tornou um produto de uma grande corporação, já é meio caminho percorrido para questionar sobre as ferramentas que utiliza e como utiliza. Não se trata de não usar, se trata do como usar”, finaliza.

Como surgiu a Inteligência Artificial

O professor Valter Estevam do IFPR de Irati comenta que termo Inteligência Artificial não é novo e que foi criado em 1956 durante um evento científico que tratava de teoria de autômatos, redes neurais e estudo da inteligência. Desde sua primeira aparição até os dias de hoje, muitas definições já foram propostas. “Talvez uma das mais simples para o público em geral seja a de que Inteligência Artificial é uma área de conhecimento que trata dos recursos computacionais para permitir que as máquinas imitem o raciocínio humano na realização de tarefas”, explica.

Lenon Diego Gauron

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