Dívidas em atraso podem prejudicar a saúde mental e o bem-estar físico e social das pessoas
O endividamento pode causar um ciclo de ansiedade e estresse que afeta o bem-estar individual e os relacionamentos sociais, conforme destacam profissionais da saúde mental. O que fazer?
Cerca de 72 milhões de pessoas no Brasil estão em situação de inadimplência, de acordo com o Mapa da Inadimplência e Negociações de Dívidas da Serasa. Isso significa que mais de 40% da população do país possui dívidas com pagamento em atraso.
O atendente de suporte técnico Renan Ribeiro Leite é um dos muitos brasileiros com este problema. Ele conta que o endividamento ocorreu devido ao uso não planejado do cartão de crédito. “A minha dívida começou porque eu estava gastando demais. Estava com dois cartões de crédito, gastando muito, e as faturas estavam altíssimas. Chegou uma hora que o salário não deu conta. Ou eu pagava uma fatura ou a outra, e eu deixei uma de lado. Ela ficou lá, e eu não consegui pagar mais,” relata Renan.
Ele comenta que a situação de ver a dívida se transformar em uma bola de neve começou a afetar sua saúde emocional. “O que mais acontecia era de toda hora vir a notificação do banco e eu ver a fatura cada vez maior. Eu ficava pensando que nunca mais ia conseguir pagar essa conta”, lembra.
Consumo impulsivo
Um estudo publicado no Portal do Investidor, do governo federal, destaca que um dos principais fatores do endividamento está relacionado ao comportamento de consumo impulsivo. Muitas vezes, as pessoas recorrem a compras sem planejamento financeiro ou usam o consumo como uma forma de lidar com o estresse e outras emoções negativas.
A psicóloga clínica Beatriz Berger Fracaro explica que pessoas com dificuldade em controlar seus impulsos tendem a buscar alívio imediato em compras, especialmente em momentos de tensão. “Quando há uma dificuldade no controle de impulsos, essas pessoas podem ter a tendência de buscar fazer compras quando sentem algum tipo de tensão, o que pode trazer um alívio imediato, mas a longo prazo trazer sentimentos de culpa, falta de controle e até mesmo baixa autoestima”, descreve.
Outra consequência, pode ser o acúmulo de dívidas a longo prazo. Embora, dentre as causas do endividamento, além do consumo impulsivo também possam estar outros fatores, como necessidades urgentes imprevistas. “Existem diferentes contextos que podem colocar as pessoas em uma situação de dívida, de modo que os impactos na saúde mental podem ser diversos. Uma dessas situações pode ser uma necessidade de saúde ou recursos materiais inesperados, por outro lado, pode estar relacionado a um comportamento de baixo controle de impulsos, em que algumas pessoas terão dificuldades para controlar o impulso de compras, levando ao endividamento”, explica a psicóloga.
A falta de organização e planejamento financeiro também são fatores comportamentais relevantes para o acúmulo de dívidas. Muitas pessoas não estabelecem um orçamento adequado, não monitoram suas despesas ou não fazem uma reserva de emergência.
As mídias sociais também desempenham um papel significativo, criando desejos e necessidades que podem levar alguns a gastarem além de suas possibilidades financeiras. A comparação social e o materialismo podem contribuir para o endividamento, levando as pessoas a seguirem padrões de consumo que não condizem com suas reais condições financeiras.
A ausência de educação financeira também aumenta a probabilidade de cair em armadilhas que podem ser prejudiciais em médio e longo prazo.
Publicado originalmente em: 07-ago-24
Fonte: Hoje Centro Sul

