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Frutas e produtos de época movimentam o comércio de beira de estrada

06/06/2023

Frutas e produtos de época movimentam o comércio de beira de estrada

Há 20 anos Suzana Ferreira Guimarães trabalha em uma barraca às margens da BR-153, nas proximidades do trevo de acesso à BR-277, em Irati, vendendo frutas da época e produtos típicos locais. "De abril a julho vendemos pinhão, ponkan e o caqui; e a partir de novembro até dezembro vendemos o pêssego e ameixa. Em janeiro até fevereiro vendemos o melão caipira. A gente pega direto do produtor para estar repassando aos fregueses”, conta Suzana.

Por estar situada à beira de duas rodovias, em uma barraca com frutas e produtos típicos do interior de Irati e região, muitos de seus clientes são viajantes e turistas. “Muita gente que passa na BR-277, que entra em Irati para conhecer os pontos turísticos, como a Santa e o Parque Aquático, ou mesmo os que chegam para almoçar em Irati, acabam passando por aqui e levando nosso produto. Quando eles passam na BR-277, fazem o contorno, vêm até nós e seguem a viagem. Eles sempre voltam. Temos fregueses de fora que acabam pegando o WhatsApp, depois dizem que estão vindo para Irati e pedem para deixar separado os produtos para eles”, relata Suzana.

Além disso, o local também serve como ponto de referência para viajantes e uma espécie de ‘centro de informações’ para aqueles que não conhecem a região. “Bastante gente chega aqui perguntando por onde é melhor para chegar em cidades como Ponta Grossa, Imbituva, Teixeira Soares e outras, então servimos também como um ponto de informação”, conta a vendedora.

O local já é bem conhecido por quem chega ou sai de Irati. Eraldo Ferreira Guimarães é irmão de Suzana e também é vendedor. Ele conta que inicialmente sua mãe e seu falecido padrasto iniciaram os negócios na BR-277, mas que depois foi preciso mudar para o ponto onde estão até hoje. “Desde 1999, a gente tinha as bancas na BR-277, do meu falecido padrasto e da minha mãe. Aí o pedágio proibiu, então foi montado na BR-153. O lugar foi escolhido por ser saída da cidade e com o tempo fomos pegando conhecimento e aprendendo sobre a qualidade”, relembra Eraldo.

Ele conta que os produtos oferecidos na barraca são comprados de produtores de Irati e de cidades da região, considerando a qualidade. “O pinhão, quando é época, a gente procura no interior. Já as frutas pegamos dos produtores daqui. Nós pegamos onde está melhor, não pelo valor, porque às vezes é uma diferença pequena de preço, mas na verdade, para nós, a qualidade é o que importa. Por isso, os fornecedores são todos daqui da região”, diz o comerciante, que já vendeu um melão de 17 quilos no local.

Antonio Fernandes também trabalha com vendas de produtos de época há três anos nas margens da BR-153, na Vila São João, em Irati. “Eu trabalho com pinhão, frutas e com verduras. Tem uns produtos que eu mesmo planto e cultivo, aí tem o pinhão que eu compro para revender. Eu vendo também a cerveja caseira, que eu mesmo faço”, descreve Antonio.

Ele se dedica exclusivamente às vendas há cinco meses, mas garante que a atividade sempre fez parte de sua vida. “Eu trabalhava registrado, aí me mandaram embora faz uns 5 meses, mas eu sempre trabalhei com as vendas nas horas livres, inclusive nos finais de semana. Eu também vendo verduras de casa em casa, como batatinha, cebola e outras coisas”, comenta.

Com um ponto fixo nas margens da rodovia, Antonio já é conhecido e tem fregueses até de outros estados. “Meus clientes são meio a meio, tem o pessoal de Irati e tem gente até do Mato Grosso que compra. Eles passam com as carretas e levam os produtos”, conta.

Tradição

O secretário de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar de Irati, Raimundo Gnatkowski explica que a venda de produtos de época na beira da estrada ou dentro das próprias propriedades é comum em nossa região. “Nós temos bastante esse hábito de agricultores que têm em sua produção, por exemplo, pêssego, uva, melancia e melão. Tem muitos agricultores no Rio Corrente, no Rio Preto, lá no Guamirim, que trabalham assim com produtos da época e já têm por hábito, sempre naquela determinada época, naquele determinado momento do ano, eles têm esses produtos sendo comercializados ali na beira da estrada, do lado da sua propriedade”, explica o secretário.

Raimundo avalia que, devido a essa prática, os consumidores já sabem onde ir para buscar a melhor fruta. “Isso cria aquela clientela que praticamente já espera o pêssego, por exemplo, que é bastante forte”.

Ele complementa que os vendedores também passam a atuar no centro das cidades da região com a venda de frutas típicas. “As pessoas andam na rua XV de Novembro e vêm vender o morango. O pêssego também quando é época. Aquele ponto parece que fica marcado, todo ano você chega naquela época, aquilo marca, e isso muitas vezes ajuda o agricultor”, descreve o secretário.

Diretamente do produtor para o consumidor

Ednilson Andriola produz pêssego, ameixas e mimosas em uma propriedade em Campinas, Fernandes Pinheiro. Ele fornece para os supermercados de Irati e outras cidades do estado, mas também para muitos vendedores autônomos, como Suzana e Eraldo, que procuram o produto com ele para revender na região. “Tem bastante autônomos, bastante mesmo, que negociamos diretamente, tanto os que pegam aqui, tanto os que eu entrego também”, comenta Ednilson.

Além de fornecedor para vendedores de beira da estrada e supermercados, Ednilson também comercializa os produtos diretamente em sua propriedade. “Um diferencial nosso é que o pessoal da cidade vem comprar muito, eles vêm aqui, ficam à vontade, compram frutas fresquinhas, direto do pomar, e fazem a degustação. Geralmente sábado e domingo tem até fila aqui e aquele consumidor que vinha com a intenção de levar um quilo, leva o dobro ou triplo”, relata Ednilson, que já trabalha com a produção de frutas há mais de 20 anos.

Por sua vez, Héllyta Maria Stalschus Zarpellon trabalha com a produção de morangos em uma estufa na localidade do Pinho de Baixo, no interior de Irati. Ela vende em sua propriedade e também fornece para vendedores autônomos. “O morango é uma fruta boa de se lidar. Dá um pouco de trabalho, a adubação que é feita diariamente e a poda sempre que é necessária, mas produz o ano todo se utilizada a adubação”, comenta.

Héllyta utiliza a técnica de plantar os morangos em slabs, uma espécie de saco com misturas padronizadas e prontas para plantio. “O morango é plantado em slabs sobre bancadas, é um método melhor do que o plantio no chão, pelo fato de que evita algumas pragas e pestes que normalmente ocorrem no plantio feito no chão”, explica a produtora que sonha em ter um estande próprio na Feira do Produtor Iratiense.

Possibilidade de expansão

O secretário de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar de Irati, Raimundo Gnatkowski incentiva que os produtores da região vendam seus produtos diretamente ao consumidor e cita a possibilidade de expansão de pequenos negócios. “Tem agricultores que toda a produção deles é comercializado nesses pontos. Eles não têm outro comércio, nem buscam outro comércio, eles só colhem aquela produção e colocam naquele ponto. Isso é comercializado trazendo aquele retorno para o agricultor. Muitos deles começam em pontos pequenos e depois avançam”, avalia Raimundo.

O secretário cita um exemplo de negócio que começou pequeno, na beira da BR-153, e que hoje é referência na região. “Nós temos aqui, por exemplo, a própria Anila, que começou em Rebouças vendendo queijo trançado, aquela casinha que está lá até hoje. E depois, claro, eles se tornaram toda essa potência que são hoje, têm essa comercialização aí do lado da BR-277”, lembra.

“Assim os outros produtores podem agir desta forma. Muitos vendem produtos em conserva, como nós temos indo ali para Guaraúna, um pouquinho a frente de Teixeira Soares, uma banca que vende de tudo, produtos que a própria família produz, como conservas, doces e frutas da época. Aquela banca era uma banca bem pequenininha. Agora eles aumentaram, fizeram uma cobertura, já deram uma ajeitada e está uma banca maior”, acrescenta o secretário.

Época de pinhão

Nesta época do ano, o que impulsiona as vendas nas barracas na beira da estrada, além das frutas típicas, é o pinhão. Na tenda de Suzana e Eraldo, o produto pode ser consumido no local, ou levado para viagem, nas opções cozido ou cru. Suzana conta que muitos clientes passam praticamente todos os dias para buscar pinhão e recebem um atendimento especial por conta disso. “Tem aqueles fregueses que vêm só aqui comprar, e aí a gente dá aquela caprichada. Tem gente que vem todo dia praticamente para pegar o pinhão cozido, por exemplo os carreteiros. Então a gente escolhe um a um, os mais graúdos, para aqueles que vêm direto aqui, para que eles voltem sempre”, conta.

Já para os consumidores que passam no local esporadicamente, Suzana também garante a qualidade dos pinhões. “Não que o outro produto seja ruim. Muita gente diz que o produto é mais caro que o mercado, só que no mercado, de cada dez pinhões você perde uns três, e no meu não, a gente classifica tudo antes de vender. Eu sei que se eu vender uma coisa boa, amanhã ele vai voltar. Quando tem pêssego e ameixa, eles deixam de comprar no mercado, que é mais barato na promoção, para vir comprar aqui, porque nosso produto é direto do produtor para cá”, afirma a vendedora. “A fruta não vai para a câmara fria, não perde o sabor e não fica aquele ‘gosto de chuchu', como o povo fala. Por isso a gente capricha”, brinca.

Como o pinhão é típico do inverno, um dos desafios de se trabalhar à beira da estrada é enfrentar as mudanças do clima tanto para se proteger como para preservar os produtos. “Nessa época que é o começo da safra a gente trabalha de segunda a segunda, geralmente das 8h até às 18h e almoçamos por aqui mesmo. O frio não é problema, porque para vender o pinhão precisamos que esteja frio. O que incomoda é o vento. já no verão, como trabalhamos com a fruta, é o sol, mas nada que um bom guarda-sol não dê jeito. Mas os produtos não ficam expostos no sol, então não altera o sabor da fruta”, explica Suzana.

De vendedor e psicólogo, todo mundo tem um pouco...

Suzana Ferreira Guimarães trabalha vendendo frutas e produtos típicos há vinte anos na beira da BR-153. De clientes ela tem dos mais variados: os que passam de vez em quando; os que são fiéis e voltam sempre; os que estão lá todos os dias e os que vão somente para ter com quem conversar.  “Tem aqueles clientes que a gente costuma dizer que é o dia do psicólogo. Aquelas pessoas que vêm do interior, muitas vezes não têm com quem conversar, geralmente são pessoas de mais idade, acabam parando, conversando, contando suas histórias, o que aconteceu e o que vai acontecer. Então é o dia da gente estar ouvindo; a gente ouve e acaba gostando e eles sempre acabam voltando”, relata a vendedora.

Na companhia dos lagartos

Uma curiosidade que acontece algumas vezes por ano na banca onde Suzana Ferreira Guimarães trabalha é o aparecimento de lagartos em busca de frutas. De acordo com ela, os animais aparecem somente no final do ano. “No final do ano, na época de ameixa, vem uns 15 a 20 lagartos aqui direto. Eu os ensinei a comerem na minha mão, o pessoal dá risada de ver os lagartos que chegam a 1,5 metro. Primeiro eu colocava a ameixa no meu pé, depois comecei a dar na mão. Eles só comem ameixa e uva, e o pessoal para aqui para olhar os lagartos”, conta Suzana.

Texto: Lenon Diego Gauron/Hoje Centro Sul

Fotos: Lenon Diego Gauron/Hoje Centro Sul, Suzana Ferreira Guimarães e Ednilson Andriola

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