28/07/2025
No Dia do Agricultor, números expressivos e uso crescente de tecnologia revelam a potência do setor agropecuário na região de Irati, onde a agricultura familiar predomina
No Paraná, os agricultores são protagonistas de uma das mais expressivas cadeias produtivas do país. E na região Centro Sul do estado, a realidade não é diferente. Em 2024, o Núcleo Regional da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (SEAB) de Irati registrou um Valor Bruto da Produção (VBP) superior a R$ 5,4 bilhões, com forte presença da agricultura familiar e diversificação produtiva.
Com nove municípios sob sua abrangência – Irati, Teixeira Soares, Rebouças, Rio Azul, Mallet, Fernandes Pinheiro, Imbituva, Guamiranga e Inácio Martins –, a região da SEAB de Irati demonstra que o campo segue firme, mesmo diante de desafios, como o clima instável, infraestrutura inadequada e necessidade de modernização.
Agricultura familiar como base da produção
Boa parte desses bilhões em produção vem das pequenas e médias propriedades, que são administradas por famílias que têm na terra o seu sustento. Segundo Bruno Krevoruczka, gerente regional do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR-Paraná), a agricultura familiar ainda é o perfil predominante na região.
“São propriedades de diferentes tamanhos, com uma diversidade produtiva muito grande, indo desde a produção de grãos e tabaco até a pecuária de leite e a olericultura”, destaca o gerente do IDR. Na base dessa produção estão centenas de famílias que trabalham na lavoura, na criação de animais e em agroindústrias. Muitas vezes, elas são responsáveis por abastecer escolas, mercados e feiras.
Bruno também destaca que os agricultores da região são adeptos de práticas que integram produtividade e sustentabilidade. Além do tradicional Sistema Plantio Direto, estão em uso o manejo integrado de pragas (MIP/MID), bioinsumos, cultivo protegido com estufas, irrigação técnica e o avanço da agroindustrialização nas propriedades, com famílias transformando leite, frutas e carnes em produtos com maior valor agregado.
“Hoje, nossa função é atuar de forma completa, integrando a extensão rural (levando conhecimento ao campo), a pesquisa agropecuária (gerando novas tecnologias), os negócios e a logística (apoiando na comercialização e infraestrutura), e a agroecologia (fomentando sistemas de produção sustentáveis). Nosso objetivo é oferecer um serviço completo para o agricultor paranaense, apoiando-o em todos os elos da cadeia produtiva”, explica o gerente do IDR.
Uma das políticas públicas de abastecimento alimentar que se destaca no incentivo à produção e à comercialização dos produtos é o Programa Compra Direta Paraná (CDP), que adquire alimentos de cooperativas e associações de produtores.
No Núcleo Regional de Irati, o edital de 2025 conta com 13 contratos ativos, contemplando produtores de Fernandes Pinheiro, Guamiranga, Imbituva, Inácio Martins, Irati, Mallet, Rebouças, Rio Azul e Teixeira Soares. O investimento total ultrapassa R$ 2,1 milhões, garantindo renda a famílias rurais e o acesso a alimentos saudáveis para a população.
Além dos produtos in natura, o programa também estimula a entrega de alimentos processados, como panificados, compotas e produtos coloniais, muitos deles provenientes de agroindústrias familiares. O Compra Direta Paraná é considerado um importante instrumento de fomento à economia rural e à segurança alimentar.
O panorama dos municípios
A diversidade produtiva da região pode ser observada nos números do VBP por município.
Irati
VBP Total: R$ 958.110.930,53
Destaques: Soja, fumo, feijão, leite e suinocultura
Teixeira Soares
VBP Total: R$ 918.945.034,18
Destaques: Soja, leite, suinocultura, avicultura e feijão
Imbituva
VBP Total: R$ 757.403.080,52
Destaques: Soja, fumo, leite, avicultura e feijão
Rio Azul
VBP Total: R$ 643.575.736,75
Destaques: Fumo (47,6% do total), soja, suinocultura, leite e madeira
Rebouças
VBP Total: R$ 558.571.340,59
Destaques: Soja, fumo, leite, suinocultura, selagens, feno e capineiras
Inácio Martins
VBP Total: R$ 480.995.961,74
Destaques: Produtos florestais (77,4% do VBP local), erva-mate, soja e bovinocultura sem leite
Fernandes Pinheiro
VBP Total: R$ 370.442.220,25
Destaques: Soja, avicultura, feijão, leite e fumo
Mallet
VBP Total: R$ 368.304.367,18
Destaques: Soja, fumo, madeira, leite e erva-mate
Guamiranga
VBP Total: R$ 343.292.482,16
Destaques: fumo, soja, leite, feijão e suinocultura
(Fonte: VBP 2024, versão preliminar. Seab/Deral (2025)
Soja é a principal cultura na maioria dos municípios da região
Na maioria dos municípios, a soja aparece como principal cultura, sendo seguida por fumo, leite, feijão, madeira, suínos e hortaliças, conforme as vocações de cada localidade. A chefe do Núcleo da SEAB de Irati, Adriana Baumel explica que os dados do VBP não apenas mostram os valores totais, mas ajudam a entender a composição produtiva de cada município.
“O Valor Bruto da Produção está organizado por grupos de produtos como grãos, hortaliças, frutas, flores, pecuária e florestais, além do total da agricultura. A tabela mostra, tanto o peso de cada grupo em cada município, quanto a contribuição daquele município para o total regional em cada setor”, destaca Adriana.
“Por exemplo, a pecuária representa 33,2% do VBP de Teixeira Soares e, ao mesmo tempo, esse município responde por 26,9% da pecuária de todo o Núcleo Regional. Isso ajuda a identificar as vocações produtivas de cada localidade”, completa.
Apesar das dificuldades, os produtores da região têm adotado práticas sustentáveis com entusiasmo. “O Sistema Plantio Direto segue sendo a principal tecnologia de conservação do solo. Além disso, o manejo integrado de pragas, o uso de bioinsumos e a irrigação técnica estão cada vez mais presentes”, relata Bruno. Ele também destaca o crescimento da agroindustrialização: “A transformação da produção dentro da propriedade agrega valor e renda para as famílias, com a produção de queijos, embutidos e compotas”.
O engenheiro agrônomo, Guilherme Kasprzak, é um exemplo da nova geração que alia tradição familiar e inovação técnica. Na Fazenda Xanadú, em Fernandes Pinheiro, em que atua com a família desde 2019, as culturas principais são soja como cultivo de verão, trigo, triticale, centeio, aveia, além do reflorestamento com pinus, eucalipto e erva-mate.
Ele decidiu seguir esta carreira porque desde pequeno gostava da fazenda e decidiu voltar e ajudar a família. “Tendo uma vivência prática no agro, eu já sabia de muitas coisas, mas durante a minha formação pude adquirir conhecimentos teóricos que, hoje, quando me deparo com alguns desafios do dia a dia, me auxiliam muito”.
Guilherme vê na formação técnica um apoio fundamental para aliar tradição e eficiência. “Você pode ter o equipamento de última geração, mas se não estiver bem regulado e sendo operado por alguém que entenda, não irá te trazer maior produtividade. O capricho continua sendo a palavra mais importante para uma lavoura de excelência. É o famoso feijão com arroz bem feito!”, afirma.
Na fazenda, a inovação vem do solo. “A principal ferramenta é a análise de solo georreferenciada, coletadas em grid, e os mapas de fertilidade. Um solo bem manejado e corrigido é algo primordial para uma lavoura de sucesso”, explica.
Guilherme também aponta que o uso de máquinas com inteligência artificial já é realidade no campo: “Elas auxiliam os operadores e indicam como podem desempenhar melhor o serviço. Isso é importante considerando a deficiência de mão de obra qualificada no campo”, conclui o engenheiro agrônomo.
Desafios atuais e futuro
Entre os principais desafios apontados pelo gerente regional do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR-Paraná) estão os impactos climáticos, o custo de produção e a infraestrutura rural. “Temos vivenciado eventos extremos com mais frequência, como estiagens ou excesso de chuvas. Além disso, os preços dos insumos oscilam muito, e as estradas rurais ainda precisam de melhorias”, menciona Bruno Krevoruczka.
Um modelo organizacional que poderia auxiliar os produtores rurais na busca por soluções para os problemas cotidianos seria o cooperativismo, entretanto, mesmo com o perfil predominante da agricultura familiar, no Centro Sul, esta prática ainda não tem tanto destaque quanto em outros locais. “Diferente de outras regiões do Paraná, ainda não temos uma identidade cooperativista consolidada”, afirma Krevoruczka.
A sucessão familiar no campo é outro ponto de atenção. “A permanência do jovem está diretamente ligada à perspectiva de renda e qualidade de vida. O jovem que fica é aquele que enxerga o potencial da terra e quer aplicar novos conhecimentos”, observa. O IDR-Paraná trata o jovem como público prioritário em suas políticas de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), auxiliando-os no acesso às linhas de crédito já existentes, como o Pronaf, e todo o suporte técnico para que ele possa inovar na propriedade.
Bruno acredita que o futuro da agricultura local está apoiado em três pilares: diversificação, agregação de valor na origem e rastreabilidade. “A tecnologia será uma aliada, mas o foco estará sempre na qualidade do produto e na sustentabilidade do processo”, conclui o gerente do IDR.
Cooperativa COMDAFAR – Rebouças
Valor contratado: R$ 1.489.583,11
Quantidade entregue: 106.092 kg
Associação ASSIS – Irati
Valor contratado: R$ 248.518,76
Quantidade entregue: 22.512 kg
Associação Boa Esperança – Teixeira Soares
Valor contratado: R$ 145.913,85
Quantidade entregue: 14.215 kg
Associação EBENEZER – Inácio Martins
Valor contratado: R$ 48.103,93
Quantidade entregue: 5.628 kg
Associação AAFAG – Guamiranga
Valor contratado: R$ 45.524,70
Quantidade entregue: 4.933 kg
Associação ASSOAFIM – Imbituva
Valor contratado: R$ 45.905,96
Quantidade entregue: 4.783 kg
Cooperativa COMDAF – Rio Azul
Valor contratado: R$ 44.851,08
Quantidade entregue: 4.127 kg
(Fonte: Relatório CDP – Edital 001/2025, SEAB)
Fernanda Hraber