11/07/2025
A casa que já foi chamada de “Palácio do Pinho”, “Casa do Iapar”, “Casa do Florestal” e é um símbolo da pujança econômica do ciclo da madeira, está em condições precárias. Ex-moradores da localidade onde localiza-se o “Casarão” temem que ele desabe
Ex-moradores da localidade Florestal, na divisa entre Irati e Fernandes Pinheiro, estão realizando uma mobilização através das redes sociais para resgatar memórias da comunidade e chamar a atenção para o risco de desabamento de um casarão histórico e centenário, construído por volta de 1912, durante o Ciclo da Madeira.
Trata-se da residência que foi sede da Fazenda Florestal, a antiga Serraria Miranda. É uma imponente mansão toda construída em madeira de imbuía, com aproximadamente 400 m², distribuídos em 40 ambientes entre salas, quartos, sótão e porão. Ela já foi chamada de “Palácio do Pinho”, “Casa do Iapar”, “Casa do Florestal” e simboliza a pujança econômica e social da época em que a exploração da madeira era preponderante em Irati e região.
Apesar da beleza e da representatividade arquitetônica da casa, ela permanece abandonada há muitos anos. O jornalista José Nascimento, autor da página no Instagram Florestalviva, tem liderado a mobilização “SOS Casarão”, que já envolve muitas pessoas.
“Como a gente diz, eu nasci e me criei lá. Quando chegaram as fotos atuais, todos do grupo ficaram muito tristes e espantados: o Casarão de Florestal está sob ameaça de desaparecer a qualquer momento”, avalia José. Ele conta que a proposta inicial nas redes sociais era apenas resgatar fotos antigas das famílias que residiram na localidade, mas que as imagens do estado de conservação atual geraram comoção.
“O que nos entristece é o atual estado de tudo por lá. Depois que começamos a falar no assunto o pátio recebeu uma limpeza. Não é tudo, mas sinal que alguém sentiu o movimento’, comenta José, citando que o local foi tombado pelo Patrimônio Histórico em 30 de julho de 1990 (processo 006/90 - inscrição 102). “Agora o tombamento vai completar 35 anos. A gente corre o risco de ser desrespeitoso e crítico, mas é muito tempo, não? A situação só piorou. O Casarão está abandonado”, reclama.
Segundo ele, com o processo até o antigo Iapar deixou o prédio fora dos seus limites, ficando com os barracões da Serraria Miranda (que precisam ser tombados) servindo de armazéns e a velha chaminé. Moradores relatam que uma empresa chegou para reformar o telhado do Casarão, mas teria abandonado a obra.
Objetivos do movimento
O movimento on-line chamado SOS Casarão, tem os seguintes objetivos:
1) Chamar a atenção das autoridades para o risco real da perda de um lindo patrimônio histórico e cultural do Brasil;
2) A necessidade de criar na localidade um ecossistema que oportunize ações de preservacionismo histórico, cultura, pesquisa agropecuária, recreação e educação, entre outras frentes.
Alcance
Recentemente, ao saber do risco que a casa corre, o secretário de Estado de Desenvolvimento Sustentável, o urbanista Rafael Greca, se manifestou nas redes sociais sobre o tema.
“Nas imediações da Floresta Nacional de Irati — existente há 78 anos, no município de Fernandes Pinheiro, infelizmente em desuso e sob risco de abandono — reencontro o Palácio de Pinho (1912). Um casarão com 40 quartos, cenário de vários filmes nacionais, perfeito para se tornar um Hotel de Charme. Foi residência do tradicional empreendedor madeireiro Xavier de Miranda, famoso em Curitiba por sua esposa, a professora Dona Branca Xavier de Miranda, que vivia e lecionava na mansão da Rua Comendador Araújo. O jornalista José Nascimento registrou o momento em fotografia”, publicou Greca em sua página do Facebook.
De acordo com o líder da mobilização “SOS Casarão”, Greca apresentou o problema ao governador em exercício, Darci Plana, pedindo atenção. O secretário de Desenvolvimento Sustentável ainda se propôs a fazer uma visita técnica ao local, para unir forças políticas em torno de um projeto.
O Casarão e a Serraria Miranda
O “Casarão”, que tem sido palco e pauta de gravações cinematográficas, documentários, estudos acadêmicos e matérias jornalísticas, tem 3 andares, cerca de 400 metros quadrados e 40 cômodos. Ele fica na fazenda onde funcionava a Serraria Miranda, do industrial Alberico Xavier de Miranda.
Muito bem montada, a serraria contava com máquinas modernas para a época (à vapor). Ao todo eram 800 funcionários, que tinham na sede escola para os filhos, armazém e até uma igreja, que ficava ao lado do Casarão e seguia o mesmo estilo arquitetônico.
A fazenda é cortada pelos trilhos da ferrovia Paraná Santa Catarina, que liga Ponta Grossa a União da Vitória e Guarapuava, respectivamente. Era pela estrada de ferro que a madeira era transportada, assim como pasta mecânica (papelão) que tinha como centro de produção uma outra indústria, instalada na localidade que era conhecida como Instituto do Pinho, Flona de Irati, que era do antigo Ibama. Detalhe: a movimentação de cargas entre as duas propriedades (em cerca de 5 quilômetros) era feita por vagonetes, em trilhos exclusivos do grupo empresarial.
No caso da Fazenda Florestal, em 1967, ela passou a ser de propriedade do Governo do Estado do Paraná (Seab) e a do Pinho ficou com o Governo Federal (na época IBDF). Hoje a Florestal é gerenciada pelo IDR - Instituto de Desenvolvimento Rural (antigo Iapar) e o casarão foi tombado pelo Patrimônio Histórico.
Da Redação/Hoje Centro Sul