facebook

Irati: entre raízes e novos horizontes, uma história de 118 anos desenvolvimento contínuo

14/07/2025

Irati: entre raízes e novos horizontes, uma história de 118 anos desenvolvimento contínuo

Cidade celebra seus 118 anos com olhar voltado ao futuro, sem esquecer a força de sua história. Entre tradições culturais, desafios urbanos e novas oportunidades, Irati busca fortalecer sua identidade, impulsionar a economia, valorizar a educação e investir em qualidade de vida

 

Irati acorda cedo. Com neblina cobrindo a cidade e o trem passando pelos mesmos trilhos onde tudo começou, ainda mantém as tradições dos povos que chegaram aqui, junto aos desafios e a busca por se reinventar a cada novo ciclo.

A cidade é inquieta. Quer crescer, gerar mais emprego, manter seus jovens por perto, valorizar suas belezas e seus saberes. Carrega no presente o reflexo das raízes profundas que ajudaram a construir sua identidade.

Raízes que moldam uma cidade

Irati, inicialmente, foi terra indígena e, mais tarde, passou a ser conhecida como Covalzinho - caminho dos tropeiros. Foi com a instalação da estrada de ferro que o marco do progresso foi consolidado. Muitos povos chegaram e firmaram suas raízes, deixando hábitos culturais, gastronômicos, sociais e religiosos. Poloneses, ucranianos, italianos, alemães e outras etnias se fixaram nestas terras e fizeram deste lugar um lar cheio de esperança para suas famílias.

A vinda destes imigrantes trouxe aquilo que marca presença no cenário gastronômico e artesanal, como o pierogi, a polenta, o kutiá, as pêssankas, brolhas, a dança, a música e a fala. “Mas também é marca registrada por aqui a presença dos holandeses e árabes que, desde a cultura dos moinhos de vento até a culinária saborosíssima estampada em um bom tabule, foram capazes de fazer dessa Irati centenária um lugar bom para todos”, ressalta o secretário municipal de Cultura, João Vitor Sviech.

Adentrando o marco cultural ao longo das gerações, ele observa que todo o legado destes povos na música, artes, dança, culinária, eventos e festivais de grandes proporções, feiras e no cotidiano atencioso de cada lar, foram sendo transferidos aos mais jovens, que hoje, mantêm as tradições com muita força.

Sviech lembra que, além dos costumes herdados pelas etnias do outro lado do oceano, os povos originários daqui, ainda permanecem, deixando vivas as suas memórias nas palavras, costumes primários, no canto e nas belezas naturais: “os sagrados povos indígenas, tupi-guarani, guaranis e kaingangues, lutaram bravamente por essas terras; que se fundiram entre os novos povos e que estão presentes em vários fazeres e saberes diários dos iratienses”.

Hoje, nas políticas culturais, ele afirma que Irati segue rumo aos avanços por meio de um sistema de cultura forte e participativo, que, segundo ele, oportuniza a democratização de acesso aos recursos viabilizados pelo governo federal para que a cultura se multiplique, chegue a todos os espaços e comunidades, fortalecendo a proposta de descentralização cultural.

“É imprescindível pensarmos na nossa Rio de Mel como aquela que acolheu tantas e tantas etnias, que abraçou e desenvolveu tantas culturas diferentes e que fez florescer um povo marcado por força, determinação, coragem, vontade e, claro, muita cultura”, salienta.

Entre paisagens, fé e propósito

Irati tem muitos lugares que são convites ao encantamento e à reflexão por suas belezas naturais e pelo turismo religioso. Destacam-se o Parque Aquático, o Santuário de Nossa Senhora das Graças, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Luz, cachoeiras como as do Pinho de Baixo e Itapará, e locais históricos, como a Casa da Cultura.

Nos últimos anos, tem crescido também a busca por experiências em trilhas, espaços abertos e contato com a natureza, impulsionada tanto por visitantes quanto por moradores locais. O turismo ecológico e o de vivência rural vêm ganhando força como alternativas sustentáveis de lazer e conexão com a identidade regional.

Além de abrigar esses espaços que despertam o olhar e a fé, Irati também investe na formação de profissionais que podem fortalecer, ainda mais, esse potencial turístico. É na Unicentro que funciona o curso de Turismo da cidade — uma graduação que vai muito além da sala de aula e que tem colaborado com pesquisas, projetos de valorização do patrimônio local e propostas de desenvolvimento sustentável para o setor. Com olhar técnico e sensível, estudantes e professores do curso vêm contribuindo para mapear atrativos, propor roteiros e pensar no segmento com mais profissionalismo e identidade.

Para o professor Maycon Tchmolo, do curso de Turismo da Unicentro, é importante ampliar a visão sobre o que constitui o turismo em Irati. “Muitas vezes, se entende que turismo só acontece quando há um atrativo que precisa ser visitado, como o Santuário, por exemplo. Mas, na realidade, o turismo se desenvolve de forma muito mais ampla e integrada do que simplesmente termos um local para visitação”, explica.

Ele destaca que os atrativos existentes devem ser pensados como espaços de práticas sociais já presentes no cotidiano da população, e que podem ser ressignificados como experiências turísticas. “A vocação turística de Irati pode estar na realização de eventos — caminhadas na natureza, corridas, encontros de veículos antigos, esportivos, o próprio rodeio e outros — que tragam identidade e movimentem a cidade. Isso atrai visitantes, amplia a ocupação hoteleira, gera lucro para restaurantes e demanda transporte. O evento, nesse caso, é o produto principal, e os atrativos servem como complemento”.

Tchmolo também vê um grande potencial no turismo rural, com possibilidade de integração com cidades vizinhas. “Precisamos construir uma identidade turística para Irati e trabalhar o que já temos como base para isso, de forma planejada e estratégica”, reforça.

Formar para transformar

Ao longo das últimas décadas, Irati consolidou-se como um dos principais pólos educacionais do Centro-Sul do Paraná. Com cerca de 20 instituições de ensino superior presentes no município — entre universidades, faculdades e unidades de ensino à distância, a cidade passou a atrair estudantes de toda a região, movimentando não apenas o setor educacional, mas também o comércio, mercado imobiliário e os serviços.

A presença da Unicentro, Instituto Federal do Paraná (IFPR), de faculdades como a São Vicente, e de instituições técnicas ampliou o acesso à formação profissional e contribuiu para manter jovens na cidade por mais tempo. Segundo o professor Edélcio Stroparo, da Faculdade São Vicente, e membro do corpo docente da Unicentro há 36 anos, essa estrutura educacional tem papel estratégico no desenvolvimento regional.

Stroparo destaca o crescimento da Unicentro com muitos cursos instalados e que agora, os investimentos seguem significativos em cursos de pós-graduação. “Também fico muito feliz em participar da criação da Faculdade São Vicente, uma ideia gestada há muitos anos, que encontrou parceiros, investidores, professores, alunos e toda a comunidade, e hoje é uma realidade. Este é um grande projeto na nossa cidade que muito contribui para a transformação da região como polo educacional na formação de pessoas e profissionais”. 

Nesta proposta, a Uniguairacá - instituição que compartilha as atividades com a Faculdade São Vicente de Irati, tem importante atuação focada nos setores de saúde, negócios e pós-graduação com muitos cursos lato sensu e, agora, na área de stricto sensu. “A Uniguairacá, em Guarapuava, é uma instituição consolidada e a recente conquista foi a autorização para o curso de Medicina. Isso nos deixa muito felizes porque a faculdade tem quase todos os cursos em funcionamento na área de saúde e, em um futuro, poderemos ter este curso aqui em Irati”. O professor explica que este é um sonho mais distante neste momento, mas está acalentado por toda a comunidade, para se tornar realidade.

“Todas essas ações somadas às outras instituições caracterizam Irati como uma cidade voltada para o setor educacional. A educação é uma grande indústria especializada em que o seu produto dissemina conhecimento para todas as pessoas que se envolvem no processo”. Ele acredita que o setor educacional, sobretudo, o nível superior, se constitui como um dos principais pilares de desenvolvimento de uma sociedade. “E, por isso, acredito que Irati seja privilegiada por possuir importantes instituições, atuações em todos os ramos da economia nacional e tem condições de alavancar o desenvolvimento desta cidade”, conclui Edelcio.

Os nós que ainda precisam ser desatados

Mesmo com avanços visíveis em setores, como da educação, Irati ainda precisa enfrentar de forma estratégica dois grandes desafios: a melhoria da renda da população e o acesso à moradia digna. Os dois temas estão diretamente ligados à qualidade de vida e ao desenvolvimento da cidade.

Na economia, o setor de serviços está em alta e há urgência na qualificação. De acordo com dados do Sebrae, atualizados em maio de 2025, a prestação de serviços corresponde atualmente a 48,79% das empresas de Irati, enquanto o comércio representa 30,62%. Juntas, essas duas áreas concentram, praticamente, 80% das atividades econômicas formais do município.

“O setor de serviços continua sendo a maior vocação da cidade. Tivemos um incremento de 44% nos últimos cinco anos e, hoje, temos 3.752 empresas só nesse segmento. É um número bem expressivo, que mostra o dinamismo e a pujança da economia local nessa área”, destaca o secretário municipal de Indústria e Comércio, Oscar Muchau.

Para ele, a chave para o aumento da renda da população passa, necessariamente, pela capacitação profissional. “As melhores oportunidades aparecem para quem está preparado. É essencial investir em qualificação para ocupar vagas mais exigentes e melhor remuneradas ou até iniciar um negócio com propostas inovadoras. Naturalmente, com isso, a geração de empregos acontece, porque novas oportunidades surgem”, explica.

Em Irati, tem jovem criando suas próprias oportunidades e mergulhando de cabeça no empreendedorismo. É o caso de Jean Stec, que transformou a tradição familiar em inovação e crescimento.

“Sou a terceira geração de pipoqueiros da minha família e decidi empreender nesse ramo com muito carinho. A pipoca, que pode parecer simples, foi o caminho para mudar minha vida e construir algo maior”, conta o criador da Pipocas Estouro, que começou com um carrinho e, hoje, já conta com food truck, kombi personalizada, atendimento a eventos e, em breve, uma hamburgueria própria.

Além do sucesso com o público, Jean também viu seu trabalho ser reconhecido dentro do empreendedorismo, como microempreendedor individual (MEI) e como inspiração jovem. “Minha maior realização é ser reconhecido pelas crianças, pelas famílias. Irati tem muito potencial e eu acredito demais na cidade, o quanto ela pode crescer e atrair público, principalmente no quesito turístico, que pode ser melhorado. É aqui que tudo começou pra mim ”, afirma.

Outro grande desafio enfrentado por Irati está na área da habitação. Com mais de duas mil pessoas cadastradas no sistema de pretendentes da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), a cidade tem ampliado seus esforços para oferecer moradia digna e legalizada a famílias em situação de vulnerabilidade social.

Entre as ações em destaque está a entrega de 46 novas casas pelo programa Casa Fácil Paraná – Valor de Entrada, uma iniciativa que envolve a Cohapar, a Caixa Econômica Federal, a Prefeitura de Irati e a construtora Piacentini. O programa viabiliza subsídios de R$20 mil para famílias que não conseguem arcar com a entrada de um financiamento. A Prefeitura contribui ainda com isenção de taxas relacionadas à construção.

No mês de junho, outras 16 famílias assinaram contratos com a Caixa, por meio da mesma iniciativa, e novas etapas do programa devem ser lançadas nos próximos meses.

Outra frente importante é o Condomínio do Idoso – Programa Viver Mais, voltado para pessoas com mais de 60 anos. O projeto prevê moradias adaptadas, acessíveis e com infraestrutura adequada para promover qualidade de vida na terceira idade.

A cidade também avança em regularização fundiária urbana (REURB). Diversos bairros estão sendo incluídos em processos de legalização de terrenos e moradias. Com a adesão ao programa Escrituração Direta da Cohapar, o município espera agilizar a emissão de escrituras e garantir segurança jurídica às famílias.

“Sabemos que os desafios são muitos — da escassez de áreas urbanas disponíveis à burocracia —, mas seguimos firmes no propósito da nossa gestão, de fazer a política habitacional avançar em Irati. Cada casa entregue, cada contrato assinado, cada escritura regularizada representa mais do que um papel: representa uma nova chance, um recomeço com dignidade”, afirma a secretária municipal de Habitação, Jô Rolim de Moura.

Ela reforça que a secretaria permanece de portas abertas à população. “Nosso compromisso é com as pessoas. Estamos trabalhando todos os dias para garantir que cada iratiense tenha acesso a uma moradia digna, segura e com seus direitos garantidos”.

Cidade em construção

Irati segue sendo um território de encontros, memórias e transformações. Ao mesmo tempo em que preserva com orgulho suas raízes, projeta novos horizontes, investe em pessoas e busca soluções para crescer de forma mais justa, criativa e conectada com o seu tempo. Em cada trilho, trilha ou trajetória, permanece o desejo coletivo de fazer da cidade um lugar cada vez melhor para viver.

 

Fernanda  Hraber

Comentários

A edição 1696 do Jornal Hoje Centro Sul já está nas bancas!🗞️📰
  • Direitos Autorais

    Textos, fotos, artes e vídeos do Jornal Hoje Centro Sul estão protegidos pela legislação brasileira sobre direito autoral. É expressamente proibido a reprodução do conteúdo do jornal (eletrônico ou impresso) em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização expressa do Jornal Hoje Centro Sul.

  • Endereço e Contato

    Rua Nossa Senhora de Fátima, no 661
    Centro, Irati, PR - CEP 84500-000

  • Pauta: jornalismohojecentrosul@gmail.com

    Expediente: de segunda à sexta das 8h às 17h

JORNAL HOJE CENTRO SUL - © 2020 Todos os Direitos Reservados
Jornalista Responsável: Letícia Torres / MTB 4580