22/12/2023
A proximidade do Natal é um momento de alegria e celebração para muitas pessoas. No entanto, é comum ouvirmos que no passado a data parecia ter mais magia, que era melhor do que é hoje, o que pode gerar um sentimento de nostalgia das festividades passadas.
Explorando o impacto das adversidades nas memórias festivas, a psicóloga Sandra Regina Trojan ressalta que eventos dolorosos, como a perda de entes queridos – frequentemente figuras centrais nas festividades como o Natal – ou conflitos familiares podem alterar significativamente a maneira como percebemos estas datas.
“Situações marcantes como perda de um ente querido, doença, Covid, dificuldades econômicas, conflitos familiares, quebra de vínculos e tantas outras situações desagradáveis podem transformar momentos que antes eram felizes em lembranças destruídas por um acontecimento ruim”, explica. Ela acrescenta que, independentemente de acontecimentos dolorosos, as próprias famílias passam por mudanças significativas devido dinamismo da vida.
“Também acontece com famílias nas quais os filhos cresceram e vão comemorar as festas em outros lugares, então os pais sentem-se abandonados por estes filhos, com uma sensação de menos valia e ingratidão por parte deles. São famílias que antes se reuniam para comemorar, trocar presentes, receber amigos e curtir cada momento”, detalha a psicóloga.
Por conta de questões como estas, muitas famílias podem perder o interesse em decorar as suas casas e fazer festas em épocas como o Natal, o que pode trazer a sensação de solidão e afeta a saúde mental, explica Sandra.
“Perdem o desejo para se reunir e renovar suas energias para preparação de um ano novo, deixam de programar, decorar a casa com a justificativa que ‘as festas não têm mais graça’, que ‘já não têm a mesma magia que antigamente’. Estas pessoas precisam lidar com a pressão da necessidade imposta pela sociedade para que estejam bem e felizes. Assim, elas sentem-se deslocadas e solitárias, vendo tanta alegria alheia nas redes sociais e campanhas apelativas do comércio, o que piora ainda mais a situação do seu estado mental”, descreve.
Mudança cultural
Além de adversidades que podem surgir ao longo dos anos nas famílias, o doutor em História e professor da Unicentro de Irati, João Carlos Corso explica que a própria cultura de comemorar o Natal vem se moldando ao longo das décadas.
“O que mudou é a própria cultura. Existia uma cultura de encontro muito maior entre os vizinhos, e nessa época de Natal, se faziam as novenas, as pessoas participavam efetivamente, porque era também uma forma não só de participar do momento religioso, mas também de conversar, de comer alguma coisa junto e assim por diante. E isso mudou bastante”, avalia.
Ele observa uma mudança significativa nos dias atuais até mesmo em relação às decorações natalinas, antes mais evidentes nas residências, agora com mais envolvimento do poder público.
“Uma outra questão também que me chama a atenção é que via muito na nossa infância a ideia de fazer um pinheirinho de Natal, depois começava a aparecer as luzes, e isso começava a virar uma espécie de concorrência entre um vizinho e outro, aquela coisa de quem faz a casa mais bonita, mais iluminada. O que me chama a atenção é que hoje tem ocorrido um processo em que o poder público, principalmente as prefeituras, têm entrado no sentido de criar mecanismos de organização de um Natal, com uma série de eventos e de locais para as pessoas visitarem, não tanto de marcar somente o Natal, mas também de chamar turista. É um Natal que sai do elemento religioso e que tem relação diretamente com o comércio e com o turismo”, aponta Corso.
Não se deve comparar com a vida alheia
Com essa mudança cultural citada por Corso, a psicóloga Sandra Regina Trojan destaca que atualmente as redes sociais fomentam uma cultura de comparação constante entre as vidas das pessoas, criando a ilusão de que a vida alheia é sempre mais satisfatória do que a nossa própria, inclusive em épocas festivas.
“As pessoas precisam entender que cada um tem um ritmo e não se pode comparar um com o outro, os momentos são cíclicos, bem como as emoções. Não deve se cobrar ou achar que tem que estar super feliz, saltitante ou indo em todas as festas. Ela precisa entender que todo mundo tem seu tempo, e achar o balanço entre não se isolar do mundo, mas também respeitar seu momento e sentimento”, orienta.
A psicóloga enfatiza a importância de se preservar as memórias felizes do passado, mas também de cultivar novas experiências significativas. “A melhor maneira é continuar vivendo com alegria e felicidade, cultivar as lembranças boas, que significam justamente que as pessoas que partiram foram amadas e que você as amou também. As pessoas podem ressignificar esses momentos e voltar a viver a emoção do fim de ano”, finaliza.
Texto: Lenon Diego Gauron/Hoje Centro Sul
Fotos: Pexels